À LUZ DA PALAVRA: Jesus e Nicodemos! (Jo 3,14-21)
A Sagrada Escritura está repleta de encontros marcantes, um, porém, a nosso ver, ganha em simbolismo. Falamos do encontro entre Jesus e Nicodemos.
O primeiro? Já sabemos de quem se trata: Jesus de Nazaré, residente da baixa Galileia, na Palestina. Quanto ao seu local de nascimento, historicamente um tanto conturbado: para alguns, Belém, e aqui entra o peso da tradição Cristã, para outros, Nazaré. Assumiu fielmente todo o mandato do Pai, aqui veio, abaixou-se, por amor, à nossa pacata e pequena vida, ensinou o Reino do Pai, difundiu sua nova lógica, viveu o amor num patamar jamais visto, retificou leis, aboliu decretos, consertou ritos, aproximou distâncias, curou doentes, devolveu alegria aos tristes, deu amparo às viúvas, cuidou dos órfãos e, hoje, fez um ancião, tanto na sua exterioridade, quanto na sua interioridade, sentir a alegria de voltar a ser criança.
O segundo: Nicodemos! Quem fora este? Homem de alto requinte na sociedade judaica, mais precisamente, chefe dos judeus, de formação sólida, de estrutura familiar edificante, visado na sociedade palestinense, conhecido por todos, temente a Deus, fiel cumpridor da Torá de Moisés. Movido por uma aguda curiosidade, vai à procura de Jesus, à noite.
Por que este encontro emerge, no mundo bíblico, como um dos maiores e mais brilhantes? Justamente porque, quando olhamos para a vida de Nicodemos, nela encontramos espaço para todos nós. Nas atitudes desse homem tão alto e tão baixo, tão importante e tão discreto, tão corajoso e tão medroso, estamos eu e você. Não é verdade que preferimos encontrar Jesus sempre à noite? Pois ela nos ajuda a cobrir um pouco do tudo que somos, ao passo que o dia mostra todas as coisas com mais evidência e precisão.
Não é verdade que todos os dias nos apresentamos a Deus muito convictos do que realmente precisamos, certos de que nos conhecemos totalmente e somos donos de nós mesmos? Exatamente a mesma coisa carregava consigo o velho presbítero judaico Nicodemos. E, já não foram inúmeras as vezes que retrocedemos, acreditando que os nossos impossíveis fossem irresolúveis para Deus? O mesmo sentira Nicodemos: “Como pode um homem nascer, sendo já velho?”
A bem da verdade, herdamos deste esforçado ser: conhecimento, certeza, segurança, autodomínio, mas também, medo, insegurança, temor desmedido. E hoje Jesus, com o seu Espírito, quer inculcar em nós a confiança de que é possível nos realizarmos já nesta vida, mesmo carregando extremos diversos e tão radicais.
Não sabemos ao certo se Nicodemos obteve respostas para todas as suas perguntas; o que podemos afirmar é que o Amor encarnado permitiu-lhe se confrontar consigo mesmo, nas vielas amargas das próprias dúvidas. Nicodemos assistiu o que nem todos os amigos de Jesus assistiram: a Vida sendo entregue, o Amor assumindo seu lugar na história, a Verdade derrotando a mentira, Deus dizendo à sua criatura que nascemos para Ele e se um dia Dele viemos, é lógico que um dia haveremos de voltar a Ele também.
Outrora, a serpente levantada, serviu como símbolo para suavizar e curar as feridas do povo peregrino de Israel. Hoje, a Palavra proclamada, o irmão que está ao meu lado, o Pão e o Vinho transubstanciados são sinais sacramentais e reais que se levantam em nosso meio a nos falar: “Coragem! Entremos, por ora, no deserto com Jesus, não para nele ficar; logo mais sairemos rumo ao Belo Jardim, não para procurar pela vida, senão para cantar a alegria que sustenta o céu, que alimenta os Santos, que move os Anjos: Jesus ressuscitou, o Amor venceu, a Vida é certa! A morte é apenas uma possibilidade”.
Artigo publicado originalmente em: http://feiravocacional.com.br/aa52-jesus-e-nicodemos.php
Pe. José Ancelmo Santos Dantas | Coordenador Geral da Feira Vocacional