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O presbítero: homem da misericórdia

Missa dos Santos Óleos
Santo Amaro, 2016

O presbítero: homem da misericórdia

Caro Dom Fernando,
Caros irmãos no sacerdócio,

Neste Ano dedicado à Misericórdia, impulsionado pelas palavras e gestos do Papa Francisco que, conversando com seu clero de Roma, tocou nesse tema, eu também desejo refletir com vocês, caros irmãos, sobre o homem da misericórdia, como deve ser o sacerdote.Como primeiro ponto a ser abordado nesta conversa, relembro uma frase do salmo 130: “Se levardes em conta nossas faltas, Senhor,  quem haverá de subsistir?”. Essa frase, que nós rezamos nas Completas todas as quartas- feiras à noite, nos remete a uma verdade: Deus é misericordioso e ele é a fonte da misericórdia; se não fosse assim, ninguém de nós poderia se salvar. Essa pergunta que o salmista submete a si mesmo também poderia ser interpretada usando-se outras palavras: “Nós, que fomos chamados a exercitar uma missão tão sublime e tão grande como a do sacerdócio, não fomos convocados porque somos isentos de pecados ou por causa dos nossos méritos”. Pergunta-se então: quem de nós é capaz de pensar que é melhor do que os outros, a ponto de achar que não precisa reconhecer os próprios pecados, deixando de apelar para a misericórdia de Deus?

Santa Faustina Kovaska, a apóstola da misericórdia, citada pelo Papa Francisco na conversa com seu clero, afirma em seu Diário que “se o bom Deus mostrasse minimamente o abismo da nossa miséria, nós morreríamos de pavor”.

O salmista, depois de ter feito essa constatação, retoma imediatamente o ânimo e a esperança, olhando não mais para o pecado, mas para a bondade de Deus, e salienta: “Mas em Vós se encontra o perdão… a misericórdia”.

Essas palavras nos fazem reviver e nos advertem que estamos caindo nos braços de um Pai misericordioso e nos de uma mãe que, como diz Isaías, jamais poderia esquecer-se do próprio filho, daquele que as suas entranhas geraram.

O sacerdote, uma vez reconhecida a própria fraqueza, e depois de ter experimentado a força da regeneração proporcionada pelo sacramento da penitência (como acabamos de fazer), é chamado a ser instrumento da misericórdia do Senhor, oferecendo ao povo, por meio do ministério que a Igreja lhe confiou, a esperança de encontrar esse Pai. Nós devemos deixar que as pessoas possam enxergar o coração do Pai através daquilo que somos.

O Papa Francisco, em sua viagem a Cuba, ao reunir-se com religiosos e sacerdotes, esclarecendo-os sobre quem seríamos, destinatários da misericórdia, enfatizou que, para o sacerdote, há um lugar privilegiado onde ele encontra o pobre, o fraco, o último da sociedade: o confessionário. Lá, o padre encontra a miséria, a mesma miséria que ele próprio experimentou antes do perdão. O Papa nos aconselha a lembrarmo-nos de que poderíamos estar no lugar do penitente e de que, se a misericórdia não nos tivesse salvado, poderíamos ter chegado a cometer pecados ainda mais graves do que os que cometeu o penitente que está na nossa frente. O Papa nos recomenda, portanto, que tratemos a pessoa arrependida, que chega até nós muitas vezes “despedaçada”, da mesma forma como fazem, muitas vezes, aqueles que se dedicam a dar atenção aos pobres: quando encontram moradores de rua, eles se preocupam em limpá-los, em servi-los em suas necessidades, em curá-los de suas enfermidades, etc. O Papa nos pede que os estimulemos a incorporar-se à Igreja, e, por que não, também frequentar o confessionário, pois Jesus abraçava os pobres e acolhia os pecadores. (experiência das 24h para Jesus)

No Tríduo Pascal que estaremos vivenciando nos próximos dias, teremos a possibilidade de contemplar o Senhor, que “se entregou a nós” por amor. Deixou que o nosso pecado o crucificasse, mas, em seu sofrimento, nos deixou um sinal de misericórdia, como nos lembra São Pedro, em sua primeira carta: “Por suas chagas fostes curados”. [1Pd 2,25]

É por meio das chagas de Cristo que atingiremos o óleo da misericórdia, que cura e salva. É do mesmo óleo que o bom Samaritano derramou nas feridas do homem espancado que havia encontrado ao longo do caminho [Lc 10,25-37]. O óleo que hoje será consagrado simboliza o bálsamo de amor que saiu das chagas e do lado aberto do Senhor e que, derramado sobre as feridas da humanidade, produzirá com certeza a cura esperada.

Para os batizados, esse óleo será fonte de nova vida, regenerador dos males decorrentes do pecado original; para os crismandos, sinal do fogo do Espírito que revigorará os novos apóstolos, enviando-os ao mundo; para os presbíteros, o sinal da consagração que os configurará ao próprio Cristo sacerdote; para os enfermos, será alívio para os seus sofrimentos.

Agradeçamos ao Pai essa maravilhosa missão que recebemos de sua bondade, apesar de nossos limites, e renovemos, juntos, com a proteção de Nossa Senhora, o nosso compromisso de sermos homens de misericórdia!

+José Negri, PIME